novembro.2022

Desempregados usam mais meios digitais para busca de trabalho

O primeiro ano da pandemia de Covid-19 foi marcado por intensa retração da atividade econômica e da ocupação, com o consequente aumento do desemprego e da inatividade involuntária. Já em
2021, com o avanço da vacinação e a redução das restrições à circulação, a retomada das atividades econômicas elevou a ocupação e diminuiu a inatividade e, com menor intensidade, o desemprego.

Na coorte acompanhada desde 2019, mais da metade daqueles que estavam desempregados em 2021 eram assalariados em 2019 e, para procurar trabalho, utilizam meios digitais de maneira mais
intensa do que outras formas. Entre os inativos em 2021, diminuíram os que se encontravam nesta situação de forma involuntária.

Estes dados são da pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) pela Fundação Seade, que acompanhou a situação ocupacional das pessoas de 18 anos e mais no último trimestre de 2019 e em igual período de 2021. O estudo busca mostrar a trajetória dos que estavam desocupados e inativos no final de 2021, e as principais ações para
mudar esta condição.

Maioria dos desempregados em 2021 estava ocupada em 2019

Entre o contingente que se encontrava desempregado em 2021, 54% estavam ocupados em 2019, ou seja, perderam sua ocupação no período da pandemia, outros 29% já se encontravam nesta
condição e 17% passaram da inatividade para a situação de desempregados em 2021.

Do conjunto de desempregados em 2021 que eram ocupados em 2019, a maior parte tinha emprego assalariado (58%) – quase a metade (49%) com carteira de trabalho assinada. Outros 31% desses desempregados eram conta própria ou autônomo, sendo que 2 em cada 3 sem nenhuma formalização de sua atividade, e 11% em outras formas de inserção (pequenos empregadores e
empregadas domésticas).

Já entre as pessoas que estavam inativas em 2021, 69% já estavam nessa situação em 2019, 24% migraram da condição de ocupados para a inatividade em 2021 e 7% que eram desempregados no
início do período desistiram de procurar trabalho em 2021.

Distribuição dos desempregados e inativos, segundo condição de atividade no 4o trimestre de 2019

Região Metropolitana de São Paulo, 4o trim.2021, em %

 

Elevado uso das redes sociais para procura de trabalho no pós-pandemia, mobilizando a rede de familiares e amigos

Para o conjunto dos desempregados em 2021, há diferenças nos meios utilizados para procurar trabalho conforme sua condição de atividade em 2019. Os desempregados em 2021 que estavam
ocupados ou desempregados em 2019 utilizaram de forma mais frequente as redes sociais do que os demais mecanismos de procura.

Já entre os que migraram da inatividade em 2019 para o desemprego em 2021, as visitas presenciais (70%) se destacam, indicando que estar afastado do mercado de trabalho leva à utilização de meios mais tradicionais de reinserção.

Proporção de desempregados, por condição de atividade em 2019, segundo meio utilizado para procurar trabalho (1)

(1) Resposta múltipla.

Entre os desempregados em 2021, as redes sociais foram mais utilizadas por homens (85%), por aqueles que são filhos nos domicílios em que residem (90%), pelos jovens de 18 a 24 anos (92%),
pelas pessoas não negras (85%) e por aqueles com pelo menos o ensino médio completo (91%).

A busca de trabalho por meios mais tradicionais, como a visita presencial, foi mais utilizada pelos chefes de domicílio, pessoas negras, de 25 a 39 anos de idade e que não concluíram o ensino médio.

O tipo de providência adotada pelos desempregados na busca por trabalho, em 2021, também apresenta diferenças conforme sua situação em 2019. Entre aqueles que migraram da situação de
ocupados em 2019, o uso das redes de conhecidos e familiares é mais intensa (73%) do que para os que estavam desempregados em 2019 (61%) ou inativos no mesmo período (65%).

Já a busca junto a agências privadas é similar (45%) para os que estavam ocupados ou desempregados em 2019. A busca direta junto a empresas (44%) e o uso de anúncios (35%) são mais frequentes entre os que já estavam desempregados em 2019 do que para os que se encontravam ocupados naquele ano.

Proporção de desempregados, por características pessoais, segundo meio utilizado para procura de trabalho (1)

Região Metropolitana de São Paulo, 2021, em %

(1) Resposta múltipla.

Proporção de desempregados, por providências tomadas na busca por trabalho, segundo condição de ocupação em 2019

Região Metropolitana de São Paulo, 2021, em %

(1) A amostra não comporta a desagregação para os inativos.

Aposentados e mulheres em afazeres domésticos são os maiores grupos entre os inativos

Diversamente de 2020, quando parcela significativa dos inativos estava nesta condição involuntariamente, devido à pandemia,1 apenas 13% dos inativos em 2021 estavam disponíveis para começar um trabalho nos 15 dias subsequentes, caso houvesse alguma oferta.

Coerentemente com a elevada parcela de inativos em 2021 que já estavam nesta condição em 2019 (69%), o acesso à aposentadoria é a principal razão para não estarem trabalhando ou procurando trabalho. Já entre os que migraram do desemprego em 2019 para a inatividade em 2021, 56% justificam este fluxo por ter afazeres domésticos e cuidados de familiares, situação que é
majoritariamente indicada por mulheres.

Entre os inativos em 2021 que estavam ocupados em 2019, 9% declararam ter desistido de procurar trabalho por acreditar que não o encontrariam, indicando que há fortes limitações para sua
eventual reinserção no mundo do trabalho.

Distribuição dos inativos, por condição de ocupação no 4o trimestre de 2019, segundo principal motivo de não ter procurado trabalho

Região Metropolitana de São Paulo, 4o trim.2021, em %

(1) A categoria “outros” inclui os demais motivos e, também, aposentadoria e desejo de não trabalhar.

Cresce a proporção dos responsáveis pelos domicílios no desemprego

Na coorte de desempregados em 2021, 36% eram chefes de domicílio, o que indica maior dificuldade para garantir a manutenção das famílias. Também estão sobre representadas, entre os desempregados em 2021, as mulheres (59%), as pessoas não negras (45%), as com 40 a 59 anos de idade (29%) e aquelas com ensino médio incompleto (31%).

Entre os que estavam desempregados em 2021, 14% declararam ter realizado “bico” ou atividade ocasional remunerada nos últimos três meses e 24% afirmaram ter recebido Auxílio Emergencial.
Comparando o perfil dos inativos em 2019 e 2021, ampliaram-se as proporções de pessoas de 40 a 59 anos de idade (30%), chefes de domicílio (46%), homens (33%), pessoas negras (40%) e daqueles com ensino superior completo e mais (13%).

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Referenciada na Região Metropolitana de São Paulo, utilizou amostra painel em duas tomadas – 2019 e 2021.

 

Nota
1. Ver: FUNDAÇÃO SEADE. Pesquisa Trajetórias Ocupacionais. Inatividade involuntária aumenta durante a pandemia. Maio de 2021.

 

 

Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Trajetórias Ocupacionais.
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