abril.2023

Condição das mulheres no mercado de trabalho após período mais crítico da pandemia

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada pelo Seade na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) com a população de 18 anos e mais, mostra que em 2022 alguns indicadores de mercado de trabalho apresentaram melhora para as mulheres, embora elas continuem com mais desemprego e menor taxa de participação do que os homens. Essas diferenças estruturais, que se aprofundaram durante a crise da pandemia da Covid-19, têm se mostrado difíceis de serem superadas. Sob alguns aspectos, o principal motivo para a pequena redução da desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho em 2022 foi o pior desempenho entre os homens e não necessariamente o bom desempenho entre as mulheres.

Em 2022, enquanto a taxa de participação diminuiu cerca de 1 p.p. para homens e mulheres (77% e 57%, respectivamente), a taxa de desemprego apresentou redução entre as mulheres, passando de 17% para 16%, mas permaneceu praticamente estável entre os homens (11%).

49 em cada 100 mulheres desempregadas conseguiram trabalho em 2022

Entre as mulheres ocupadas em 2021, 79 em cada 100 continuaram ocupadas em 2022. Entre os homens, essa relação era de 86 para cada 100.

A proporção de mulheres que passaram da ocupação para o desemprego era de 7 a cada 100 – a mesma que a dos homens. Já as mulheres que passaram da ocupação para a inatividade (não trabalharam e não procuraram trabalho) era de 14 a cada 100, mais que o dobro da proporção de homens (6 a cada 100).

Entre as mulheres desempregadas em 2021, 49% conseguiram uma ocupação em 2022, 32% permaneceram no desemprego e 19% foram para a inatividade. Situação um pouco menos favorável que a observada para os homens.

Distribuição dos ocupados em 2021, por sexo, segundo condição de atividade em 2022

Região Metropolitana de São Paulo, em %

Distribuição dos desempregados em 2021, por sexo, segundo condição de atividade em 2022

Região Metropolitana de São Paulo, em %

A cada 100 mulheres com trabalho informal em 2022, 21 saíram da formalidade

Entre as mulheres ocupadas em 2022, a maior parte permaneceu no mesmo trabalho de 2021 (67%), 12% mudaram de trabalho e 21% estavam na inatividade ou no desemprego em 2021. Entre os homens, é maior a parcela que permaneceu no mesmo trabalho (75%) e menor a que não era ocupado em 2021 (12%).

Distribuição dos ocupados em 2022, por sexo, segundo condição de atividade em 2021 e permanência no trabalho

Região Metropolitana de São Paulo, em %

Do total de mulheres com trabalho formal em 2022, 78% já trabalhavam com esse tipo de vínculo em 2021; 7% vieram da informalidade e 15% não trabalhavam antes.

Entre aquelas com trabalho informal em 2022, 40% já estavam nessa situação em 2021, enquanto 21% migraram de um trabalho formal. As demais (39%) não estavam ocupadas no ano anterior, porcentual maior do que o dos homens na mesma situação (19%) e daquelas que conseguiram um trabalho formal em 2022 (15%), demonstrando que as mulheres que entram no mercado de trabalho pela primeira vez, ou após um intervalo de tempo, encontram oportunidade principalmente na informalidade.

Distribuição dos ocupados em 2022, por sexo, segundo formalização do trabalho e condição de atividade em 2021

Região Metropolitana de São Paulo, em %

O trabalho por aplicativo tem crescido nos últimos anos e ganhou maior visibilidade no período da pandemia, em especial o de entrega de produtos, devido às restrições ao funcionamento do comércio e à circulação de pessoas. Esse serviço, junto com o de transporte de pessoas, parece estar se consolidando como hábito dos moradores da metrópole e possibilitando, assim, novas oportunidades de trabalho, mesmo que ainda necessitem de maior regulamentação. Na RMSP, 3,7% das mulheres ocupadas trabalhavam por aplicativo em 2022, porcentagem pouco menor que
a dos homens (5,0%).

Proporção dos ocupados que trabalhavam por aplicativo, por sexo

Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %

O perfil das ocupadas manteve-se praticamente inalterado entre 2021 e 2022. Quase a metade delas eram cônjuges (48%), 23% eram chefes no domicílio, enquanto filhas e outras posições no domicílio somavam 28%. A maioria tinha pelo menos o ensino médio completo (80%), 18 a 39 anos de idade (57%) e eram não negras (55%).

Desigualdade de gênero restringe procura de trabalho entre as mulheres

Em 2022, 18% do total de mulheres desempregadas e 2% de inativas realizaram algum bico ou trabalho ocasional como meio de sobrevivência. Essa proporção é menor que a dos homens (32% e 7%, respectivamente), possivelmente devido à dificuldade em conciliar o trabalho remunerado, mesmo que ocasional, com os cuidados com a casa e a família, que ainda recaem principalmente sobre elas.

Proporção dos desempregados e inativos que realizaram bico ou trabalho ocasional, por sexo

Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %

De fato, entre as mulheres inativas em 2022, 43% afirmaram que não procuraram trabalho pela necessidade de cuidar da casa ou da família, motivo que, entre os homens, é o menos relevante (5%). Para eles, o principal motivo foi a aposentadoria, ou porque não desejavam trabalhar (75%), proporção bem acima da observada entre as mulheres (43%).

Distribuição dos inativos, por sexo, segundo razão para não procurar trabalho

Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %

Em relação ao perfil das mulheres, em 2022, destacam-se:

Desempregadas
• 47% eram cônjuges, 23% chefes e 30% filhas ou outras posições no domicílio;
• 66% tinham de 18 a 39 anos de idade e 34%, 40 anos e mais;
• 59% eram negras e 41% não negras;
• 74% tinham pelo menos o ensino médio completo.

Inativas
• 52% eram cônjuges, 31% chefes e 16% filhas ou outras posições no domicílio;
• 22% tinham de 18 a 39 anos de idade e 78%, 40 anos e mais;
• 39% eram negras e 61% não negras;
• 48% tinham pelo menos o ensino médio completo.

NOTA METODOLÓGICA
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho, com amostra painel em quatro tomadas – no último trimestre de 2019, 2020, 2021 e 2022 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais. Esta edição analisa as pessoas investigadas em 2021 e 2022.

 

 

Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Trajetórias Ocupacionais.

 

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