A intensa redução da ocupação na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), associada à pandemia da Covid-19, resultou em forte aumento do contingente desempregado, que cresceu de
1,4 milhão para 1,9 milhão de pessoas, entre o final de 2019 e 2020.
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais mostra que, deste total, cerca de 30% (555 mil pessoas) já estavam desempregados desde o ano anterior e persistiam na busca de trabalho, mostrando que
o tempo em desemprego tem sido longo. Outros 52% estavam ocupados em 2019 e perderam seu trabalho durante a pandemia, se incorporando ao contingente em desemprego. Os restantes 18%
tinham estado na inatividade em 2019 e voltaram a procurar trabalho.
A migração para o desemprego afetou mais os principais responsáveis pelo domicílio, a maioria com experiência anterior de trabalho. Para sobreviver, 26% dos desempregados realizaram bicos
e 49% contaram com o auxílio emergencial. As restrições à mobilidade decorrentes da pandemia, associadas à menor disponibilidade de recursos das famílias, demandaram mudanças de estratégia na busca de trabalho, como o uso intenso das redes sociais.
71% dos desempregados procuraram trabalho pelas redes sociais
Os meios utilizados pelos desempregados para procurar trabalho mostram inovações neste processo: 71% o fizeram pelas redes sociais e internet, 26% utilizaram o WhatsApp. Por outro lado, meios mais tradicionais mostraram menor participação: 18% realizaram contato telefônico e 49% realizaram visita presencial.
A análise do perfil dos desempregados segundo meio de procura mostra que as redes sociais foram mais utilizadas por homens, pessoas de 18 a 24 anos e com pelo menos o ensino médio completo. A busca por meio de visita presencial foi mais utilizada por mulheres, pessoas com 40 anos e mais e que não concluíram o ensino médio. A parcela de desempregados negros que utilizou as redes sociais para procurar trabalho (68%) é inferior à de não negros (75%).
Proporção de desempregados em 2020, segundo meio utilizado para procurar trabalho(1)
RMSP, em %
(1) Resposta múltipla.
Em relação a quem foi acionado, a busca de trabalho continua sendo feita junto a locais tradicionais: 72% consultaram empregadores e empresas; 43% fizeram contatos com parentes, amigos e conhecidos; 11% contataram clientes. Chama atenção o percentual que informa ter procurado em agências privadas de emprego (27%) e colocado ou respondido anúncios (24%).
28% estavam procurando trabalho há mais de um ano
A maioria dos desempregados (91%) já tinha alguma experiência anterior de trabalho. Entre esses:
• 58% eram empregados em seu último trabalho, sendo que 8 em cada 10 tinham vínculo formal neste trabalho;
• 33% eram autônomos ou conta própria, sendo que 8 em cada 10 sem formalização de suas atividades;
• 31% tinham perdido ou deixado seu último trabalho há no máximo 6 meses;
• 28% estavam desempregados há mais de um ano.
Distribuição dos desempregados em 2020, segundo tempo que perdeu ou deixou seu último trabalho
RMSP, em %
Aumentou o desemprego de responsáveis pelos domicílios
Entre 2019 e 2020, com a disseminação da pandemia, o perfil dos desempregados da RMSP mostrou maior presença dos grupos responsáveis pela manutenção dos domicílios:
• a parcela de chefes de domicílio cresceu de 27% para 31%, com declínio entre cônjuges e filhos;
• elevou-se de 31% para 36% a parcela de pessoas com 40 anos e mais, com diminuição entre as pessoas em faixas etárias mais jovens.
Ademais, aumentou de 43% para 45% a parcela de homens, com diminuição da parcela de mulheres. E cresceu o percentual de pessoas com menor escolaridade, que não haviam concluído o
ensino médio.
26% realizaram algum “bico” para sobreviver na pandemia
Para sobreviver, 485 mil pessoas desempregadas (26% do total) realizaram algum “bico” durante a pandemia, isto é, uma atividade sem continuidade ou regularidade. Por perfil, entre chefes de
domicílio, homens, pessoas de 40 anos e mais e aquelas que não chegaram a concluir o ensino médio, a parcela que realizou “bicos” é superior à média.
Entre os desempregados, mais de 900 mil pessoas (quase 50%) informaram ter recebido o auxílio emergencial em 2020.
Proporção de desempregados em 2020 com realização de “bico” durante a pandemia
RMSP, em %
NOTA METODOLÓGICA
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição sobre a Região Metropolitana de São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas.