junho.2021

Impacto da pandemia também alcança os ocupados

O impacto da pandemia da Covid-19 no mercado de trabalho da Região Metropolitana de São Paulo diminuiu as oportunidades de inserção produtiva, o que se expressou no aumento do desemprego e da inatividade. Contudo, ao final de 2020, mesmo as 8,2 milhões de pessoas que estavam ocupadas tinham sido afetadas pelas mudanças na economia e na sociedade.

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais mostra que, do total de pessoas ocupadas ao final de 2020, 7,3 milhões já se encontravam nessa situação em 2019. Esse conjunto é composto por duas situações: as 6,3 milhões de pessoas que conseguiram se manter no mesmo trabalho ou negócio durante este ano de crise; e o 1,0 milhão de pessoas que conseguiram uma nova ocupação no período, apesar da crise da Covid-19. Esses dois grupos são bem distintos em termos de atributos pessoais e de características da inserção produtiva, confirmando a diversidade dos impactos da
crise da Covid-19 no mercado de trabalho metropolitano.

Perfis dos ocupados que permaneceram e que mudaram de trabalho são diferentes

Mais da metade dos que se mantiveram no mesmo trabalho entre 2019 e 2020 são pessoas com mais de 40 anos e não negras.1 Em contrapartida, os ocupados que mudaram de trabalho são mais
jovens – 60% têm menos de 40 anos – e metade são negros.

As diferenças no perfil de escolaridade mostram que o impacto da pandemia foi maior entre os trabalhadores mais vulneráveis. Entre aqueles que mudaram de trabalho, um terço tinha, no máximo, ensino fundamental completo. Em contraposição, entre os que permaneceram no mesmo trabalho, 29% tinham ensino superior completo, proporção maior que entre os que mudaram de
trabalho (21%).

Distribuição dos ocupados em 2019 e 2020, por permanência no trabalho, segundo atributos pessoais

RMSP, em %

Qualidade da inserção dos ocupados que permaneceram no mesmo trabalho é maior do que a dos ocupados com mudança de trabalho

Entre os ocupados que permaneceram no mesmo trabalho, 55% tinham emprego assalariado com carteira assinada e apenas 12% eram conta própria ou autônomos sem formalização (registros no
CNPJ ou MEI). Entre os que mudaram de trabalho, a situação é de maior fragilidade, pois apenas 34% conseguiram trabalho com carteira assinada e 37% atuavam como conta própria, com predomínio dos que não tinham nenhum tipo de formalização.

Distribuição dos ocupados em 2019 e 2020, por permanência no trabalho, segundo posição na ocupação

RMSP, em %

Entre os ocupados que não mudaram de trabalho e atuam na indústria de transformação, é maior a proporção na metal-mecânica e menor nos segmentos de baixo nível tecnológico, como alimentos, têxtil, madeira e produtos diversos. Entre os que atuam nos serviços, é maior a participação na administração pública, defesa e seguridade social e educação.

Coerente com essas diferenças na forma de inserção, entre os ocupados que permaneceram no mesmo trabalho, a parcela que trabalha em estabelecimento fixo é muito maior que a mesma parcela entre os ocupados sem mudança de trabalho.

Distribuição dos ocupados em 2019 e 2020, por permanência no trabalho, segundo local de realização do trabalho

RMSP, em %

(1) Em domicílio do empregador, patrão, sócio ou freguês; em barraca ou banca em local fixo; sem instalações fixas (com ou sem equipamento).

Parcela em teletrabalho é maior entre os ocupados sem mudança de trabalho

Entre os ocupados que permaneceram no mesmo trabalho, 29% (1,8 milhão de pessoas) ainda estavam fazendo ou já haviam realizado teletrabalho, trabalho remoto ou home office. Essa alternativa de realização do trabalho, importante para assegurar as medidas de distanciamento necessárias ao enfrentamento da pandemia, beneficiou apenas 18% daqueles que mudaram de
trabalho ou negócio (180 mil pessoas).

Distribuição dos ocupados em 2019 e 2020, por permanência no trabalho, segundo realização de teletrabalho

RMSP, em %

Parcela maior de ocupados com mudança de trabalho recebeu Auxílio Emergencial

O Auxílio Emergencial do governo federal foi recebido por 30% dos ocupados que mudaram de trabalho ou negócio em 2020, parcela maior que a de ocupados que permaneceram no trabalho (16%). Por outro lado, enquanto 9% dos que permaneceram no mesmo trabalho foram beneficiados pelo programa emergencial de manutenção do emprego e da renda (BEm), entre os que mudaram de trabalho apenas 2% foram beneficiados pelo programa.

Proporção de ocupados em 2019 e 2020, por tipo de benefício governamental que receberam durante a pandemia, segundo permanência no trabalho

RMSP, em %

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição feita na Região Metropolitana de São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas – no último trimestre de 2019 e de 2020 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais, com exceção das inativas aposentadas.

 

Nota
1. Neste estudo, a população negra é composta por indivíduos pretos e pardos e, a não negra, por brancos e amarelos.

 

Fonte: Fundação Seade.
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