maio.2021

Jovens e transição ocupacional em tempos de Covid-19

Historicamente, os jovens entre 18 e 29 anos têm inserção mais desfavorável no mercado de trabalho, com maiores taxas de desemprego e informalidade. A pandemia atingiu os jovens em um
momento já adverso, devido ao baixo dinamismo da geração de empregos, à revolução tecnológica que extinguiu vagas no setor serviços e à endêmica dificuldade de colocação profissional sem
experiência prévia.

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais mostra que a população entre 18 e 29 anos na Região Metropolitana de São Paulo teve sua inserção no mundo do trabalho deteriorada no período da pandemia. Entre o último trimestre de 2019 e de 2020, a taxa de desemprego dos jovens cresceu de 21,2% para 28,4%, expansão mais significativa do que a verificada entre as pessoas com 30 anos
ou mais (de 9,4% para 14,9%). Esta ampliação do desemprego, que foi ainda mais aguda entre os jovens de 18 a 24 anos, é a síntese de um mercado de trabalho que se tornou ainda mais difícil
para os jovens.

26 em cada 100 jovens ocupados em 2019 perderam o trabalho em 2020

Entre os jovens ocupados em 2019, 26% não estavam mais trabalhando em 2020: 16% foram para o desemprego e 10% para a inatividade. Entre os maiores de 30 anos, além de uma parcela maior
ter permanecido ocupada, apenas 8% migraram para o desemprego.

Entre os jovens desempregados em 2019, 45% continuavam sem trabalho em 2020, parcela mais expressiva que entre aqueles com 30 anos e mais (38%).

Distribuição dos ocupados em 2019, por faixa etária, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

Distribuição dos desempregados em 2019, por faixa etária, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

Redução da ocupação está associada à desigualdade de gênero e escolaridade

Embora a redução da ocupação entre 2019 e 2020 tenha afetado jovens indistintamente do sexo, a queda foi mais aguda entre as mulheres jovens, que migraram em maior proporção para a inatividade (25%, em 2020, em comparação aos 14% entre os homens, no mesmo ano).

Percentual de ocupados na população de 18 a 29 anos, por características pessoais

RMSP, 2019-2020, em %

Considerado o perfil de escolaridade, a redução da ocupação entre os jovens atingiu todos os segmentos. Contudo os impactos mais visíveis da pandemia são percebidos entre os jovens com até
ensino médio incompleto, que são 19% do total. Nesse segmento, o percentual de ocupados, que já era menor em 2019 frente aos jovens com nível de escolaridade maior, reduziu-se ainda mais em
2020, chegando a apenas 39%.

Três jovens em cada dez fizeram teletrabalho na pandemia

Entre os jovens que permaneceram ocupados entre o final de 2019 e o de 2020, 81% não mudaram de trabalho, situação pouco menos estável que entre as pessoas com 30 anos e mais, entre as quais 88% permaneceram no mesmo trabalho.

Entre esses jovens, 30% passaram a realizar teletrabalho como medida de distanciamento social para enfrentamento à pandemia, parcela superior à observada entre as pessoas de 30 anos e mais
(25%). Ressalte-se que esta modalidade de trabalho foi adotada por parcela maior de jovens de 25 a 29 anos que daqueles de 18 a 24 anos.

Percentual da população que realizou teletrabalho, segundo faixa etária

RMSP, em %

 

 

Ademais, entre os jovens que permaneceram no mesmo trabalho entre 2019 e 2020:

• 25% tiveram redução de jornada de trabalho;

• 40% sofreram interrupção de trabalho durante a pandemia;

• 31% passaram a ter uma renda de trabalho menor.

Comparados aos da população de 30 anos e mais, esses percentuais são melhores para os jovens, mostrando que o maior impacto da pandemia sobre estes últimos se deu por meio da redução das
oportunidades ocupacionais.

Percentual de ocupados sem mudança de trabalho, por impactos da crise sobre a relação de trabalho, segundo faixa etária

RMSP, em %

Jovens também receberam auxílio emergencial

O auxílio emergencial ajudou a mitigar os impactos da crise assegurando rendimentos nos tempos de pandemia. Entre os jovens de 18 a 29 anos na RMSP, 28% receberam o auxílio, percentual
similar ao auferido pelo restante da população (30%).

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição feita na Região Metropolitana de
São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas – no último trimestre de 2019 e de 2020 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais, com exceção das inativas aposentadas.

 

 

Fonte: Fundação Seade.

 

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