A pandemia da Covid-19 produziu fortes alterações no funcionamento da economia. A pesquisa Trajetórias Ocupacionais mostra que os impactos sobre o mundo do trabalho foram intensos. Na
Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), houve diminuição do contingente de ocupados em 1,37 milhão de pessoas e elevação da taxa de desemprego para 18,4% ao final de 2020.
As 8,2 milhões de pessoas que estavam ocupadas, em 2020, também foram afetadas. Embora adotado em escala inédita, o teletrabalho beneficiou uma minoria. Redução de jornada, interrupção
de trabalho e diminuição de rendimento do trabalho, por outro lado, atingiram parcelas muito maiores dos ocupados, em especial os segmentos que já eram mais frágeis, aprofundando a desigualdade existente.
Teletrabalho foi alternativa para os ocupados com ensino superior
O exercício do trabalho no ambiente domiciliar foi uma das estratégias adotadas para reduzir a movimentação das pessoas nas cidades. Na RMSP, esta modalidade de trabalho foi adotada por
2,2 milhões de ocupados, 26% do total, sendo que 19,5% permaneciam em teletrabalho no final de 2020.
Distribuição dos ocupados, segundo realização de teletrabalho em 2020
RMSP, em %
Além de envolver uma minoria, o teletrabalho foi alternativa disponível de forma desigual para os ocupados:
• A parcela de mulheres em teletrabalho é superior à de homens.
• Praticamente inexistiu entre aqueles com ensino fundamental incompleto, mas chegou a 63% entre os com ensino superior, 1,4 milhão de pessoas.
• Foi mais utilizado no setor de serviços, onde 39% dos ocupados adotaram esta modalidade.
• Mais da metade dos assalariados do setor público estiveram em teletrabalho, parcela que diminui para 34% entre assalariados com carteira no setor privado.
Parcela de ocupados em teletrabalho em 2020, por setor de atividade e posição na ocupação
RMSP, em %
Conta própria e domésticos foram os que mais tiveram interrupção de trabalho
Entre os ocupados que permaneceram no mesmo posto de trabalho entre 2019 e 2020 (cerca de 6,5 milhões de pessoas), 44% tiveram interrupção de 15 dias ou mais no trabalho durante a pandemia, ou seja, 2,9 milhões de pessoas. A interrupção afetou de forma mais intensa os ocupados que tinham inserção mais precária:
• ocupados na construção civil foram mais afetados que os dos demais setores;
• trabalhadores por conta própria, em especial os informais, e domésticos foram mais atingidos que assalariados;
• parcela de ocupados de baixa escolaridade com interrupção de trabalho é muito maior que a dos que têm ensino superior completo.
Parcela de ocupados com interrupção de trabalho de 15 ou mais dias durante a pandemia
RMSP, em %
29% dos ocupados têm jornada menor que antes da pandemia
Desde o início da pandemia, alguns setores precisaram adotar horários diferentes de funcionamento, afetando a jornada de trabalho dos ocupados. Na RMSP, entre os ocupados que não mudaram de trabalho, 29% diziam, ao final de 2020, que sua jornada era menor que antes da pandemia, um contingente de 1,9 milhão de pessoas.
Com efeitos sobre a renda do trabalho, a redução da jornada afetou de forma diferenciada os ocupados:
• metade dos trabalhadores da construção civil passaram a trabalhar menos, praticamente o dobro dos demais setores de atividade;
• trabalhadores por conta própria, cuja renda depende do volume de trabalho, e domésticos foram muito mais afetados que os assalariados.
Parcela de ocupados com jornada menor no final de 2020 que antes da pandemia
RMSP, em %
37% dos ocupados tiveram redução de rendimento do trabalho
As interrupções de trabalho e a menor demanda por serviços resultaram em diminuição do rendimento para 37% dos ocupados que não mudaram de trabalho entre 2019 e 2020, cerca de 2,4 milhões de pessoas. Outros 6% chegaram a ficar sem qualquer rendimento por um período. Por isso, o auxílio emergencial, recebido por 16% desses ocupados, foi tão importante para recompor a renda na RMSP.
Distribuição dos ocupados segundo situação do rendimento do trabalho durante a pandemia
RMSP, em %
Também no caso da redução de rendimento, os ocupados com baixa escolaridade foram mais atingidos que os com ensino superior (44% e 29%, respectivamente). E o impacto foi proporcionalmente maior entre segmentos com inserção mais precária:
• ocupados na construção civil foram os mais afetados, seguidos por aqueles que trabalham no comércio;
• 63% dos trabalhadores autônomos tiveram redução de renda, parcela que corresponde a 27% entre os assalariados.
Parcela de ocupados com redução de rendimento do trabalho durante a pandemia
RMSP, em %
Ao final de 2020, 18% dos ocupados na RMSP haviam sido afetados simultaneamente pelos mecanismos adversos de ajustes frente à pandemia – redução de jornada, interrupção de trabalho por 15 dias e mais e diminuição de rendimento. Este grupo corresponde a 51% dos ocupados que receberam o auxílio emergencial.
NOTA METODOLÓGICA
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição feita na Região Metropolitana de São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas – no último trimestre de 2019 e de 2020 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais, com exceção das inativas aposentadas.