março.2021

Mulheres foram mais afetadas pela crise da Covid-19

As mulheres têm inserção mais desfavorável que os homens no mercado de trabalho, por, historicamente, registrarem mais desemprego, mais trabalho informal e menor renda. Os impactos da pandemia da Covid-19 sobre o mercado de trabalho aprofundaram esta desigualdade, como mostra a pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada pelo Seade na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

Tomando como referência a população de 18 anos e mais1 no último trimestre de 2019, a taxa de participação das mulheres havia decrescido para 64,2% em 2020 e a de desemprego aumentado
para 21,0%, movimentos mais intensos do que os verificados entre os homens. Como este estudo mostra, no primeiro ano da pandemia, as mulheres foram mais afetadas pela crise, resultando em
menos trabalho, mais desalento e maior dependência de mecanismos de transferência de renda.

27 em cada 100 mulheres ocupadas perderam o trabalho em 2020

A crise associada à pandemia alterou fortemente a inserção das mulheres no mercado de trabalho metropolitano. Do total de mulheres de 18 anos e mais, 29% mudaram de condição de atividade,
entre o final de 2019 e de 2020.

Entre as mulheres ocupadas em 2019, 27% não estavam mais trabalhando no final de 2020: 11% foram para o desemprego e 16% para a inatividade. Entre as desempregadas em 2019, 40% continuavam sem trabalho e 31% foram para a inatividade.

Apenas 7% das mulheres migraram para uma condição de atividade mais favorável, passando do desemprego ou da inatividade para ocupação. Em comparação com os homens, os fluxos foram
sempre mais desfavoráveis para as mulheres.

Distribuição dos ocupados em 2019, por sexo, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

Distribuição dos desempregados em 2019, por sexo, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

 

Mulheres que permaneceram ocupadas também foram afetadas

Entre as mulheres que permaneceram ocupadas entre o final de 2019 e o de 2020, 87% não mudaram de trabalho. Entre estas:

• 30% tiveram redução de jornada de trabalho;

• 44% vivenciaram interrupção de trabalho durante a pandemia;

• 32% passaram a ter uma renda de trabalho menor.

Entre as mulheres ocupadas em 2020, 6% fizeram acordo de manutenção de emprego no âmbito do Programa de Benefício de Manutenção do Emprego (BEm). Entre os homens ocupados, esta
parcela sobe para 8%.

Percentual de ocupados sem mudança de trabalho, por impactos da crise sobre a relação de trabalho, segundo sexo

RMSP, 2020, em %

Maior inatividade está associada à desigualdade de gênero

Embora mais mulheres tenham migrado para o desemprego, o perfil das desempregadas não se alterou. Persistiu afetando principalmente as mais jovens, filhas, negras e aquelas com instrução
intermediária (ensino fundamental e médio completo). Como meio de sobrevivência, 24% das mulheres desempregadas realizaram algum bico.

Além de a migração para a inatividade ter sido mais intensa para as mulheres que para os homens, os motivos são diferentes. Entre as mulheres, 45% não procuraram trabalho e estavam na inatividade em 2020 pela necessidade de cuidar da casa ou da família, motivo pouco relevante entre os homens.

Embora estivessem na inatividade, 10% das mulheres realizaram algum bico como forma de geração de renda durante a pandemia.

Distribuição dos inativos, por sexo, segundo razão para não procurar trabalho

RMSP, 2020, em %

Auxílio emergencial beneficiou mais as mulheres

Para uma parcela expressiva da população, o auxílio emergencial foi decisivo para atenuar os impactos da crise sobre seus rendimentos. Entre as mulheres com 18 anos e mais na RMSP, 34%
receberam o auxílio, percentual superior ao de homens.

Entre as mulheres que trabalhavam como domésticas em 2019, a parcela que recebeu auxílio emergencial foi ainda maior (52%), expressão do maior impacto do distanciamento social e da queda de renda sobre esta ocupação.

Percentual da população que recebeu o auxílio emergencial

RMSP, 2020, em %

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição feita na Região Metropolitana de São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas – no último trimestre de 2019 e de 2020 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais, com exceção das inativas aposentadas.

Nota
1. Excluídos aqueles que, em 2019, já eram inativos aposentados.
Fonte: Fundação Seade.
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