As condições mais desfavoráveis da população negra1 em relação à não negra no mercado de trabalho metropolitano podem ser observadas a partir das altas taxas de desemprego e da pior qualidade da ocupação. A pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada pelo Seade na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mostra continuidade desse quadro mesmo após o período mais crítico da pandemia de Covid-19.
A pesquisa aponta que, para a população de 18 anos e mais, a taxa de participação dos negros diminuiu de 70,8% para 69,7%, entre 2021 e 2022, enquanto a taxa de desemprego aumentou de 16,3% para 16,9%. Entre os não negros, no mesmo período, houve diminuição da taxa de participação, de 64,6% para 63,3%, e também da de desemprego, de 11,9% para 10,6%.
79 em cada 100 negros conseguiram permanecer ocupados em 2022
Entre os negros ocupados em 2021, 79% permaneceram nessa condição em 2022 e 20% não estavam mais trabalhando – metade foi para o desemprego e a outra metade, para a inatividade. Situação mais favorável ocorreu entre os não negros: 86% continuaram ocupados e apenas 4% passaram da ocupação para o desemprego.
Distribuição dos ocupados em 2021, por raça/cor, segundo condição de atividade em 2022
Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %
Entre os desempregados em 2021, parcela maior de negros do que de não negros conseguiu se reinserir como ocupada em 2022 (56% e 45%, respectivamente) e menor permaneceu como desempregada (25% e 38%, respectivamente). No entanto, proporção um pouco maior de negros desistiu de procurar trabalho e passou para a inatividade (19% e 17%, respectivamente).
Distribuição dos desempregados em 2021, por raça/cor, segundo condição de atividade em 2022
Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %
A cada 100 negros com trabalho informal em 2022, 19 saíram da formalidade e 29 não trabalhavam
Entre os negros ocupados em 2022, 68% permaneceram no mesmo trabalho, 13% mudaram de ocupação e 19% estavam desempregados ou inativos em 2021. Já para os não negros, 75% mantiveram-se no mesmo trabalho e 13% saíram do desemprego ou da inatividade.
Distribuição dos ocupados em 2022, por raça/cor, segundo permanência no trabalho e condição de atividade em 2021
Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %
Do total de negros com trabalho formal em 2022, 75% já tinham esse tipo de vínculo em 2021, parcela menor do que entre os não negros (80%), 9% vieram da informalidade e 15% não trabalhavam antes.
Entre os negros com trabalho informal em 2022, em relação aos não negros, é maior a proporção que continuou com esse tipo de trabalho (52%) e que não trabalhava em 2021 (29%). Os demais 19% migraram de um trabalho formal.
Distribuição dos ocupados em 2022, por raça/cor, segundo formalização do trabalho e condição de atividade em 2021
Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %
Negros e não negros exerciam suas atividades em tipos de instalação semelhantes, com cerca de 85% deles trabalhando em estabelecimento fixo, 10% em barracas, bancas ou sem instalações fixas
e cerca de 5% com equipamento automotivo.
Os serviços por aplicativos têm ampliado seu espaço na região metropolitana, principalmente na entrega de produtos e no transporte de passageiros. Em 2022, 3,9% dos ocupados negros e 5,0%
dos não negros trabalhavam por aplicativo.
Proporção dos ocupados que trabalhavam por aplicativo, por raça/cor
Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %
A maioria dos negros ocupados é composta por homens (55%), jovens de 18 a 39 anos de idade (59%) e com pelo menos o ensino médio completo (66%). Metade é de chefes no domicílio. O maior diferencial dos ocupados negros em relação aos não negros refere-se ao nível de escolaridade, uma vez que 83% dos não negros completaram pelo menos o ensino médio.
Inatividade não é uma escolha para maior parte dos negros
Em 2022, a realização de bicos ou trabalhos ocasionais como meio de sobrevivência foi maior entre os negros, tanto no caso dos desempregados (26%) como no dos inativos (6%).
A inatividade nem sempre é uma escolha, ou uma condição planejada, como em geral acontece na aposentadoria, e ocorre para parcela menor de inativos negros (46%) que de não negros (58%).
Por outro lado, a situação de não ter uma ocupação e nem procurar trabalho pode dever-se a alguma restrição e recai mais sobre os inativos negros. Para 11% deles, o motivo foi problema de saúde (6% dos não negros) e para 35% foram os afazeres domésticos e o cuidado com filhos e parentes, impedindo a realização de um trabalho remunerado (28% para os não negros).
Proporção dos desempregados e inativos que realizaram bico ou trabalho ocasional, por raça/cor
Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %
Distribuição dos inativos, por raça/cor, segundo razão para não procurar trabalho
Região Metropolitana de São Paulo, 2022, em %
Quanto ao perfil dos negros desempregados, em 2022, 55% eram mulheres, 65% tinham 18 a 39 anos de idade, 64% não eram chefes no domicílio em que moravam e 67% tinham pelo menos o ensino médio completo. Entre os negros inativos, 68% eram mulheres, 79% possuíam 40 anos de idade ou mais, 54% não eram chefes no domicílio e 64% tinham até o ensino médio incompleto.
NOTA METODOLÓGICA
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo, utilizando
amostra painel em quatro tomadas – no último trimestre de 2019, 2020, 2021 e 2022 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais. Esta edição analisa as pessoas pesquisadas em 2021
e 2022.
Nota
1. Neste estudo, consideraram-se população negra os indivíduos pretos e pardos e, não negra, os brancos e amarelos