Ao longo de dois anos de pandemia de Covid-19, as condições de inserção no mercado de trabalho se alteraram em diferentes formas e intensidade na Região Metropolitana de São Paulo. Em 2021, 59% dos ocupados estavam no mesmo trabalho de 2019, antes da pandemia, enquanto 26% haviam mudado de ocupação e 15% tinham conseguido um trabalho vindo da situação de desemprego ou inatividade no pré-pandemia. Além destes diferentes fluxos, os ocupados na RMSP vivenciaram mudanças no tipo de vínculo, na extensão da jornada e na prática de teletrabalho,
muitas delas resultando em maior precariedade na inserção ocupacional.
Esse estudo busca descrever as mudanças no perfil dos ocupados na RMSP entre 2019 e 2021, utilizando informações da pesquisa longitudinal Trajetórias Ocupacionais, que acompanhou os mesmos indivíduos, entrevistados naqueles dois anos, em situações de permanência ou trânsito entre ocupação, desemprego e inatividade.
Formalização é maior entre os ocupados que não mudaram de trabalho
Ocupados no mesmo trabalho em 2019 e 2021
Entre os que permaneceram no mesmo trabalho nos dois anos da pandemia, 62% eram empregados com vínculos formalizados.1 Outros 16% também tinham algum tipo de formalização,2 por serem conta própria com CNPJ ou empregado doméstico com carteira. Estas proporções são maiores do que as médias metropolitanas e as observadas entre os demais grupos de ocupados.
Distribuição dos ocupados, por tipo de condição na ocupação, segundo tipo de vínculo
Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2021, em %
A permanência na mesma ocupação está fortemente associada com a continuidade das atividades econômicas em que o ocupado estava inserido durante a pandemia: 75% dos ocupados na educação e 66% dos ocupados na saúde preservaram seu trabalho. O elevado percentual de ocupados na indústria de transformação (67%) está associado à adesão ao Benefício Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda3 e, na construção (60%), ao forte desempenho dessa atividade na pandemia.
Duas características importantes em relação às condições de trabalho diferenciam a situação dos ocupados que permaneceram no mesmo trabalho no período 2019 e 2021, em comparação aos
demais:
• a experiência mais disseminada do teletrabalho ou do regime híbrido alcançou 27% desses ocupados no período da pandemia. No entanto, em 2021, apenas 9% continuavam neste tipo de trabalho;
• o exercício da jornada de trabalho de forma integral englobou 71% desses ocupados, parcela maior do que os demais ocupados que têm mais jornadas parciais ou que fazem seu próprio horário.
Distribuição dos ocupados, por tipo de inserção, segundo jornada de trabalho realizada
Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2021, em %
Em relação ao perfil, os trabalhadores que permaneceram na mesma ocupação entre 2019 e 2021 eram sobretudo homens (58%), não negros (59%), chefes de domicílio (56%), com idade de 40 a
59 anos (56%) e com maior escolaridade (30% tinham superior completo).
Ocupados que mudaram de trabalho ou conseguiram trabalho entre 2019 e 2021
Para os ocupados que mudaram de trabalho e os que estavam desocupados ou inativos em 2019 e conseguiram trabalho em 2021, as proporções sem vínculo formal4 são muito mais expressivas
(30% e 41%, respectivamente). Isso mostra que as novas oportunidades de inserção no período pandêmico asseguraram menos proteção e estabilidade.
Os ocupados com menos de dois anos no atual trabalho estavam em maior proporção nos serviços de alojamento e alimentação (58%) e nas de atividades administrativas e serviços complementares (53%), segmentos com maiores restrições de funcionamento na pandemia.
Entre esses ocupados recentes, com menos de dois anos de trabalho, a parcela dos que vivenciaram o teletrabalho ou regime híbrido foi menor (19%) do que entre os que não mudaram de trabalho (27%).
Considerando a extensão da jornada de trabalho, verifica-se que:
• entre os que eram desocupados ou inativos em 2019 e estavam ocupados em 2021, 23% faziam seu próprio horário por trabalharem como autônomos;
• as jornadas parciais englobaram 17% dos ocupados que mudaram de trabalho, parcela maior do a daqueles que não mudaram de trabalho (10%);5
• a jornada média de trabalho semanal em 2021 era de 37 horas para os que eram desocupados ou inativos em 2019, alcançando 39 horas para os ocupados no mesmo trabalho ou em trabalho diferente de 2019.
Distribuição dos ocupados, por tipo de inserção, segundo realização de teletrabalho
Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2021, em %
O perfil dos ocupados em 2021 que não trabalhavam em 2019 é bem distinto dos demais segmentos de ocupados. Predominam mulheres (57%), pessoas negras (52%) e com o ensino médio concluído (53%). Também são maiores as parcelas dos que não eram os responsáveis pelo domicílio (44%) e na faixa etária de 25 a 39 anos (38%).
Já o perfil daqueles que mudaram de trabalho mostra predomínio de homens (58%), negros (52%) e com o ensino médio concluído (58%). Neste segmento, a maior parcela é de jovens adultos (46% tinham de 25 a 39 anos).
Distribuição dos ocupados, por tipo de vínculo, segundo características individuais
Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2021, em %
NOTA METODOLÓGICA
A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Referenciada na Região Metropolitana de São Paulo, utilizou amostra painel em duas tomadas – 2019 e 2021.
Notas
1. Agrega empregados do setor privado com carteira assinada (CLT) e os empregados estatutários e celetistas do setor público.
2. Agrega conta própria e empregadores com formalização e empregados domésticos com carteira assinada.
3. A adesão ao Benefício Emergencial de Manutenção de Emprego e Renda significou redução do número de horas e de salário dos trabalhadores durante os momentos mais críticos da pandemia.
4. Agrega assalariados e empregados domésticos sem registro em carteira de trabalho e contas próprias e empregadores sem nenhuma formalização.
5. O trabalho em tempo integral é realizado oito horas ou mais por dia. O em tempo parcial é exercido 6 ou 4 horas por dia, por turnos ou o trabalhador fica à disposição, aguardando ser chamado ou convocado. Aqueles que fazem seu próprio horário trabalham como autônomos.