abril.2021

Piora condição dos negros no mercado de trabalho durante a pandemia

A população negra1 possui inserção mais desfavorável do que a não negra no mercado de trabalho, expressa em mais desemprego, maior parcela no trabalho informal e menor renda. A pandemia da Covid-19 fez com que essas desigualdades estruturais se acentuassem em um curto período, como mostra a pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada pelo Seade na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).

As informações da população de 18 anos e mais2 no último trimestre de 2019 e de 2020 mostram que a taxa de participação dos negros diminuiu de 78,7% para 74,2%, enquanto a de desemprego aumentou de 15,2% para 20,6%, ambos para patamares mais elevados que o dos não negros. No primeiro ano da pandemia, os negros foram fortemente afetados pela crise, com maior dependência de mecanismos de transferência de renda, maior desalento e menor isolamento social devido à necessidade de trabalho presencial.

24 em cada 100 negros ocupados ficaram sem trabalho em 2020

A crise decorrente da pandemia piorou em intensidade similar a inserção dos negros e dos não negros no mercado de trabalho metropolitano.

Entre os negros ocupados em 2019, 24% não estavam mais trabalhando no final de 2020, sendo que metade foi para o desemprego e outra metade para a inatividade. Em relação aos não negros, o diferencial está na parcela que migrou para a inatividade, maior do que entre os negros.

Distribuição dos ocupados em 2019, por raça/cor, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

Entre os desempregados em 2019, parcela maior de negros que de não negros conseguiu se reinserir (38% e 32%, respectivamente). Contudo, para os dois segmentos, a maioria dos que estavam desempregados permaneciam sem trabalho em 2020.

Distribuição dos desempregados em 2019, por raça/cor, segundo condição de atividade em 2020

RMSP, em %

Apenas 17% dos negros ocupados fizeram trabalho remoto

Entre os negros que permaneceram ocupados entre o final de 2019 e o de 2020, 85% não mudaram de trabalho. Entre estes:

• 29% tiveram redução da jornada de trabalho;

• 44% vivenciaram interrupção de trabalho durante a pandemia;

• 34% passaram a ter uma renda de trabalho menor;

• 7% ficaram sem rendimento por algum período.

As diferenças entre negros e não negros em relação à redução de jornada e interrupção de trabalho não são expressivas. O diferencial é observado em relação ao trabalho remoto, uma vez que apenas 17% dos ocupados negros em 2020 passaram para este regime de trabalho, metade da parcela de não negros (34%). Essa menor possibilidade de manter o isolamento por meio do trabalho remoto se deve ao fato de, entre os negros, ser maior a parcela em ocupações não protegidas e em atividades consideradas essenciais durante a pandemia, como transporte e serviços de limpeza.

Percentual de ocupados sem mudança de trabalho, por impactos da crise sobre a relação de trabalho, segundo raça/cor

RMSP, em %

Desalento foi importante fator para a inatividade dos negros

O perfil dos desempregados se diferencia pela maior presença, entre os negros, de chefes de domicílio, cônjuges, mulheres, adultos e aqueles com até o ensino superior incompleto. Como meio de sobrevivência, 26% dos negros desempregados realizaram algum bico. A migração para a inatividade foi menos intensa para os negros. Mas os motivos dos inativos negros para não procurarem trabalho se distinguem aos dos não negros pela maior relevância da dificuldade em conseguir trabalho (28%) e a problemas de saúde (18%). Entre os negros que estavam na inatividade, 9% realizaram algum bico como forma de geração de renda durante a pandemia.

Distribuição dos inativos em 2020, por raça/cor, segundo razão para não procurar trabalho

RMSP, em %

Parcela maior de negros precisou do auxílio emergencial

Entre os mecanismos de proteção à renda do trabalho, o maior diferencial está no recebimento do auxílio emergencial. Entre os negros, 33% receberam o auxílio na RMSP, percentual superior ao de não negros.

Quanto aos acordos para manutenção de emprego no âmbito do Programa de Benefício de Manutenção do Emprego (BEm), 5% dos negros foram beneficiados, mesma proporção que a de não negros.

Percentual da população que recebeu o auxílio emergencial ou participou do BEm, segundo raça/cor

RMSP, em %

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição feita na Região Metropolitana de São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas – no último trimestre de 2019 e de 2020 –, entrevistando as mesmas pessoas com 18 anos e mais, com exceção das inativas aposentadas.

Notas
1. Neste estudo, a população negra é composta por indivíduos pretos e pardos e, a não negra, por brancos e amarelos.
2. Excluídos aqueles que, em 2019, já eram inativos aposentados.
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