abril.2022

Trajetórias ocupacionais nos dois anos de pandemia

Devido ao impacto da pandemia de Covid-19 sobre a sociedade e a economia, 2020 e 2021 foram anos singulares, alterando fortemente a dinâmica do mercado de trabalho. A pesquisa Trajetórias Ocupacionais, realizada pela Fundação Seade, buscou caracterizar este processo no mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), entrevistando as mesmas pessoas em três momentos diferentes – no último trimestre de 2019, antes da pandemia, e no mesmo período de 2020 e de 2021, durante a pandemia. A primeira entrevista foi realizada nas residências; a segunda e a terceira, por telefone.

Este estudo analisa os fluxos entre condições de atividade da população ativa de 18 anos e mais1 e mostra ser minoritária a parcela que conseguiu se manter ocupada em todo o período. Entre as pessoas que mudaram de condição de atividade,2 o predomínio de fluxos da ocupação para desemprego ou inatividade indica as adversidades encontradas no mercado de trabalho metropolitano nos dois anos da pandemia.

45% da população se manteve ocupada em todo o período

Nos 24 meses que separaram a primeira entrevista, em 2019, antes da pandemia, e a terceira entrevista, em 2021, após dois anos de pandemia, 45% das pessoas de 18 anos e mais na RMSP permaneceram ocupadas em todo o período, um contingente de 6,25 milhões de pessoas.

Vale destacar que três em cada quatro desses ocupados também não mudaram de trabalho em todo o período. Quanto aos que mudaram de trabalho, os fluxos produziram um contingente com
menos assalariados e mais trabalhadores por conta própria que no período prévio à pandemia.

21% permaneceram desempregados ou inativos em todo o período, o que representa 2,84 milhões de pessoas.

A parcela que migrou entre as situações de ocupação, desemprego e inatividade no período corresponde a 34% da população, um contingente de 4,76 milhões de pessoas.

Distribuição da população de 18 anos e mais, segundo fluxos entre condições de atividade

RMSP, 2019-2021, em %

Entre aqueles que mudaram de condição de atividade nesse período, cabe destacar as seguintes situações:

• 1,2 milhão de pessoas (9% do total) estavam ocupadas em 2019, antes da pandemia, mas ficaram desempregadas ou inativas em 2020 e 2021;

• 1 milhão de pessoas (7% do total) estavam ocupadas em 2019, migraram para o desemprego ou inatividade em 2020 e voltaram a ser ocupadas em 2021;

• 569 mil pessoas (4% do total) estavam desempregadas ou inativas em 2019 e 2020, e conseguiram uma ocupação em 2021;

• 1,2 milhão de pessoas (9% do total) que estavam ocupadas em 2019 e em 2020 se tornaram desempregadas ou inativas em 2021.

Desigualdades de gênero, raça e escolaridade cresceram

Os fluxos entre condição de atividade de 2019 a 2021 afetaram de forma diferenciada a população ativa de 18 anos e mais, ampliando desigualdades de gênero, raça e escolaridade, que historicamente marcam o mercado de trabalho metropolitano.

Entre as pessoas que permaneceram ocupadas em todo o período (45%):

• 57% são homens, invertendo participação no total da população, na qual as mulheres são maioria;

• 39% são negros,3 parcela inferior à existente na população ativa (45%);

• 79% têm entre 25 e 59 anos, indicando que a exclusão afetou mais os jovens e pessoas mais velhas;

• 29% têm ensino superior completo, perfil de escolaridade muito maior ao da média da população ativa (19%).

Entre as pessoas que permaneceram desempregadas ou inativas em todo o período (21%), o perfil é bem distinto do total da população ativa:

• 77% são mulheres, muito acima da participação na população (53%);

• 47% são negros, em proporção similar à deste segmento na população (45%);

• 29% têm 60 anos e mais, perfil etário mais envelhecido que o da população;

• 55% têm no máximo ensino fundamental completo, bem acima do total (36%).

Quanto aos 34% que mudaram de condição de atividade no período, seu perfil é similar ao da média da população ativa, exceto por predominarem negros entre os que passaram por esses
fluxos.

Distribuição da população de 18 anos e mais, por fluxos entre condições de atividade, segundo sexo

RMSP, 2019-2021, em %

Distribuição da população de 18 anos e mais, por fluxos entre condições de atividade, segundo raça

RMSP, 2019-2021, em %

Distribuição da população de 18 anos e mais, por fluxos entre condições de atividade, segundo faixa etária

RMSP, 2019-2021, em %

Distribuição da população de 18 anos e mais, por fluxos entre condições de atividade, segundo escolaridade

RMSP, 2019-2021, em %

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Referenciada na Região Metropolitana de São Paulo, utilizou amostra painel em três tomadas – 2019, 2020 e 2021.

Notas
1. Excluídos aqueles que, em 2019, já eram inativos aposentados.
2. A população em idade ativa é classificada em três condições de atividade a partir da situação de trabalho e da procura de trabalho. São ocupados aqueles que trabalharam nos sete dias anteriores à entrevista; desempregados, os que não trabalharam e procuraram trabalho nos 30 dias anteriores; inativos, aqueles que não trabalharam nem procuraram trabalho.
3. Neste estudo, a população negra é composta por indivíduos pretos e pardos e, a não negra, por brancos e amarelos.
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