março.2023

Transições ocupacionais após período mais crítico da pandemia

Em 2020, a pandemia da Covid-19 atingiu fortemente a economia e o mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). Afetou também a realização das pesquisas que mensuram estes impactos, pela impossibilidade da coleta de dados presencialmente nos domicílios.

Nesse cenário, o Seade realizou a pesquisa Trajetórias Ocupacionais, para captar informações sobre a inserção das mesmas pessoas no mercado de trabalho antes e ao longo da pandemia, na RMSP. O painel da pesquisa de Trajetórias Ocupacionais foi formado pelos domicílios amostrados na Pesquisa Seade em 2019. Essa pesquisa foi realizada entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020 na RMSP, com entrevistas domiciliares presenciais. Foram realizadas mais três tomadas da pesquisa – 2020, 2021 e 2022, ocorrendo sempre no último trimestre desses anos e com as entrevistas sendo realizadas por telefone.

Este é o primeiro estudo com os resultados da tomada 4 da pesquisa, que analisa os fluxos entre condições de atividade da população de 18 anos e mais residente na RMSP de 2021 a 2022.

A pesquisa mostra que, após a forte redução das oportunidades de trabalho na RMSP durante a crise na pandemia (2020 e 2021), as mudanças foram menores em 2022. Entre a população ativa
de 18 anos e mais, a parcela de pessoas ocupadas passou de 58% para 57%, um contingente 116 mil menor; a taxa de desemprego variou de 13,9% para 13,5%, com 71 mil desempregados a menos; a taxa de participação na força de trabalho1 oscilou de 67% para 66%, contribuindo na variação negativa da taxa de desemprego na metrópole, apesar da também variação negativa na ocupação. Em contrapartida, a parcela de inativos aumentou em 187 mil pessoas.

Melhora gradativa da inserção no mercado de trabalho no período da pandemia

Apesar das dificuldades enfrentadas pelas pessoas economicamente ativas em manter ou conseguir um trabalho com o início da pandemia da Covid-19 em março de 2020, a pesquisa mostra que essa condição foi gradativamente melhorando ao longo dos últimos três anos. Se em 2020, após um ano de crise, 76% dos ocupados mantiveram essa condição e 36% dos desempregados conseguiram um trabalho, os dois anos seguintes seguiram mais favoráveis: em 2021, 83% permaneceram como ocupados e 50% dos desempregados conseguiram uma ocupação, enquanto em 2022 essas parcelas foram de 83% e 51%.

Proporção de ocupados que permaneceram em atividade e de desempregados que conseguiram trabalho, por período

Região Metropolitana de São Paulo, 2019-2022, em %

22 em cada 100 pessoas mudaram de condição de atividade entre 2021 e 2022

Ao comparar a inserção das pessoas de 18 anos e mais no mercado de trabalho entre o final de 2021 e de 2022, observa-se que 22% haviam mudado de condição de atividade. Em números absolutos, isso significa que 3,6 milhões de pessoas tiveram sua forma de inserção no mercado de trabalho alterada no intervalo de um ano.

A tabela a seguir sintetiza esse processo. Na diagonal principal, em destaque, estão as demais pessoas (78%), as quais permaneceram na mesma condição de atividade no período: 83% dos ocupados em 2021 continuavam ocupados em 2022; 31% dos desempregados persistiam em busca de trabalho; 81% dos inativos se mantinham fora da força de trabalho.

Distribuição da PIA (1) de 18 anos ou mais, por fluxo entre condições de atividade

Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %

Condição de
atividade

2022

Total Ocupados Desempregados Inativos
2021
Ocupados 100 83 7 10
Desempregados 100 51 31 18
Inativos 100 13 6 81
 (1) População em idade ativa.

Sobre os fluxos entre condições de atividade, cabe destacar:

17% das pessoas ocupadas em 2021 perderam ou deixaram seu trabalho em 2022, sendo que 7% ficaram desempregadas e outras 10% migraram para a inatividade;

mais da metade (51%) dos que estavam desempregados em 2021 conseguiram trabalho em 2022. Outros 18% desistiram de procurar trabalho e foram para a inatividade;

13% dos inativos em 2021 haviam voltado a trabalhar em 2022 e 6% se tornaram desempregados.

Em resumo, no ano seguinte ao período mais crítico da crise sanitária, apenas 9% das pessoas em idade ativa de 18 anos ou mais migraram para uma condição de atividade mais favorável, passando de desempregado ou inativo em 2021 para ocupado em 2022.

Mulheres, pessoas mais velhas e de menor escolaridade se mantiveram menos como ocupadas

As mudanças na condição de atividade ocorridas no período atingiram de forma diferenciada as pessoas segundo o seu perfil.

Entre as pessoas que estavam ocupadas em 2021, verificou-se:

a parcela de homens que conseguiu se manter ocupada em 2022 é maior que aquela entre as mulheres – 86% contra 79%. Ambos são igualmente atingidos pelo desemprego e elas migraram mais para a inatividade;

• o segmento de pessoas mais jovens, de 18 a 39 anos, teve a maior parcela que permaneceu ocupada em 2022. Nesse contingente, a parcela que sai da condição de ocupados migra mais para o desemprego do que para a inatividade, enquanto entre as pessoas mais velhas ocorre o contrário;

• entre as pessoas com pelo menos o ensino médio completo, a parcela que se manteve ocupada em 2022 é 11 p.p. maior que daquelas com menor escolaridade.

Distribuição dos ocupados em 2021, segundo condição de atividade em 2022, por atributos pessoais

Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %

Seis em cada dez desempregados mais jovens conseguiram trabalho

Quanto ao grupo de pessoas que estavam desempregadas em 2021:

• entre as mulheres, é um pouco menor a parcela que conseguiu trabalho em 2022 e um pouco maior a que desistiu de procurar trabalho e foi para a inatividade;

• por faixa etária, a parcela que conseguiu trabalho em 2022 foi bem maior entre os mais jovens;

• por instrução, a permanência em desemprego afetou parcela maior das pessoas com pelo menos o ensino médio completo, enquanto aqueles com menor escolaridade migraram mais para a inatividade

Distribuição dos desempregados em 2021, segundo condição de atividade em 2022, por atributos pessoais

Região Metropolitana de São Paulo, 2021-2022, em %

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo, utilizando 51 amostra painel em quatro tomadas.

Nota
1. Ocupados ou desempregados de 18 anos e mais, em relação ao total de pessoas de 18 anos e mais.

 

 

Fonte: Fundação Seade. Pesquisa Trajetórias Ocupacionais.
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