fevereiro.2021

Transições ocupacionais em tempos de pandemia

Em 2020, a pandemia da Covid-19 atingiu a economia e o mercado de trabalho em intensidade inédita. Afetou também a realização das pesquisas que mensuram estes impactos, pela impossibilidade da coleta de dados presencialmente nos domicílios.

Neste cenário, o Seade realizou a pesquisa Trajetórias Ocupacionais, para captar informações sobre a inserção das mesmas pessoas no mercado de trabalho antes e durante a pandemia. Elas foram entrevistadas em dois momentos – nos últimos trimestres de 2019 e de 2020. A primeira entrevista foi realizada nas residências; a segunda, por telefone.

A pesquisa mostra que a crise reduziu fortemente as oportunidades de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). No intervalo de apenas um ano, a parcela de pessoas ocupadas decresceu de 69% para 59% da população ativa de 18 anos e mais, com um contingente de ocupados menor em 1,37 milhão de pessoas. A taxa de desemprego cresceu de 12,4% para 18,4%. A taxa de participação na força de trabalho caiu para 72,8%, redução que evitou crescimento ainda maior da taxa de desemprego na metrópole.

Este estudo é o primeiro de uma série com base na pesquisa Trajetórias Ocupacionais. Ele analisa os fluxos entre condições de atividade desse conjunto de pessoas, representativas da população
metropolitana ativa de 18 anos e mais.

28 em cada 100 pessoas mudaram de condição de atividade

Ao comparar a inserção das pessoas de 18 anos e mais no mercado de trabalho no final de 2019 e de 2020, observa-se que 28% haviam mudado de condição de atividade. Em números absolutos,
isto significa que 3,88 milhões de pessoas tiveram sua forma de inserção no mercado de trabalho alterada no intervalo de apenas um ano.

Distribuição da PIA de 18 anos e mais, por fluxos entre condições de atividade

RMSP, em %

Condição de atividade

2019

Ocupados Desempregados Inativos
2020
Total 100,0 100,0 100,0
Ocupados 76,1 35,6 15,2
Desempregados 10,0 41,0 11,9
Inativos 13,9 23,4 72,9

Sobre os fluxos entre condições de atividade, cabe destacar:

uma em cada quatro pessoas ocupadas em 2019 perdeu seu trabalho, sendo que 10% ficaram desempregadas em 2020 e outras 14% interromperam a procura de trabalho, migrando para inatividade;

• entre os que estavam desempregados em 2019, apenas 36% conseguiram trabalho em 2020. Outros 23% desistiram de procurar trabalho e foram para inatividade;

• 15% dos inativos em 2019 haviam voltado a trabalhar em 2020, mas 12% se tornaram desempregados.

Em resumo, no período da crise sanitária, predominaram os fluxos para uma condição de atividade mais adversa. Apenas 7% das pessoas migrou para uma situação mais favorável, passando de
desempregado ou inativo em 2019 para ocupado em 2020.

Mulheres, jovens e pessoas de menor escolaridade foram mais afetados

As diferenças entre os perfis das pessoas que passaram e que não passaram por mudanças na condição de atividade mostram que a crise reforçou as desigualdades já existentes no mercado de
trabalho.

Centrando a atenção nas pessoas que estavam ocupadas em 2019:

• a parcela de homens que conseguiu se manter ocupada em 2020 é muito maior que entre as mulheres, mais atingidas pelo desemprego e pela inatividade;

• o segmento de jovens de 18 a 24 anos que perderam o emprego e se tornaram desempregados em 2020 é quase o dobro dos adultos. Pessoas de 60 anos e mais migraram mais para a inatividade
que os demais grupos;

• entre as pessoas com ensino superior completo, a parcela que se manteve ocupada em 2020 é muito maior que entre os demais perfis de escolaridade.

Distribuição dos ocupados em 2019 segundo condição de atividade em 2020, por atributos pessoais

RMSP, em %

Quanto ao grupo de pessoas que estavam desempregadas em 2019:

• entre as mulheres, é muito menor a parcela que conseguiu trabalho em 2020. Quase um terço delas desistiu de procurar trabalho e foi para a inatividade;

• por faixa etária, a permanência em desemprego afetou mais os jovens que os demais segmentos;

• a parcela que conseguiu trabalho em 2020 cresce com a escolaridade.

Distribuição dos desempregados em 2019 segundo condição de atividade em 2020, por atributos pessoais

RMSP, em %

 

NOTA METODOLÓGICA

A pesquisa Trajetórias Ocupacionais é uma iniciativa inovadora da Fundação Seade para obter dados longitudinais sobre o mercado de trabalho. Esta edição sobre a Região Metropolitana de
São Paulo utilizou amostra painel em duas tomadas.

Fonte: Fundação Seade.

 

 

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